Como sempre
Parei pra pensar em todas as coisas que rodeiam a nossa vida
de estudante e desempregado que quando não está lendo, ou na piscina do seu
apartamento (luxo que eu não tenho), ou comendo algum “japonês” por ai, está no
computador. Aliás, faço uma nota aqui pra essa nova onda. As pessoas falam
assim mesmo “vou no japonês hoje”. Tudo um bando de viciado em temaki que
perdeu o costume de falar da maneira que eu sempre falei: “vou comer comida
japonesa”. Ou será que tem um cara japonês a lá Caio Castro por ai que pode ser ~comido~ de vez em quando ? Enfim, voltemos a reflexão inicial.
Minha observação pode ser um tanto quanto clichê, mas mesmo
assim estava conversando, ao som do ventilador de teto, com a minha mãe no
quarto sobre as fotos. A fotografia em si, é uma coisa maravilhosa,
perfeitamente a melhor coisa que poderiam ter inventado. A quantidade de
pessoas que se emocionam e sentem a necessidade de registrar tudo é imensa. Não
imagino o mundo sem a fotografia.
Mas num sentido mais psicológico e menos superficial e
fútil, fiquei imaginando um filho vendo um álbum de fotografia dos seus pais,
em 2013, em nuvem, é claro. O que teria por la * A comida que comeu em um dia
totalmente avulso, o logo do Starbucks, seus pés no navio chiquérrimo, seu pé
na beira da piscina, o livro que estava lendo, em cima do seu colo e a sua
unha.
Sou saudosista no que diz respeito a algumas coisas, uma
delas são essas futilidades. E sou saudosista comigo mesmo, inclusive. Afinal
eu posto todos esses tipos de fotos também, alooou, tô aqui, não tô criticando
o mundo e sendo hipócrita.
Mas o quanto isso é real, o quanto isso é importante. Deve
ser importantíssimo para uma marca de calçados uma foto do pé daquela blogueira
famosa e rica, vestindo um modelo da mesma, afinal, eles ganham, elas ganham e todo mundo quer. Mas, pare e
pense.
Um sorriso hoje em dia pode inclusive ser mudado com alguns
cliques no photoshop. Sem falar nos filtros, nas frases, nos stickers, nas
molduras e tudo o que tem nas fotos. Tem, quem diria, photoshop até no Iphone,
e você pode ir lá e emagrecer, rejuvenescer e ficar mais peituda e mais
maquiada, em uma simples foto no Instagram.
É chato ficar reclamando de tudo. É hipocrisia reclamar de
uma coisa que eu também faço. Mas ao mesmo tempo é chato ver a foto do gato, do
sorvete, do restaurante, do esmalte, da neve, da sacola e do seu brinco.
Quantas vezes sorri pra tirar uma foto. E quantas vezes
tiraram uma foto minha sorrindo.
A realidade está aí.
Muita gente finge, muita gente paga de intelectual, muita
gente gasta dinheiro e faz questão de mostrar isso pro mundo, muita gente
escreve coisas que não são verdade. Fazem coisas que não são reais. Tiram fotos
de momentos que não são tão felizes e empolgantes quanto a legenda e hashtags
usadas.
Existe um culto ao lifestyle das pessoas, ao namorado de
alguém, ao lugar que você frequenta, ao trabalho que você exerce, ao que você
estuda, ao que você come, ao que você lê e ao que você pensa que é. Ou quer que
os outros pensem. Ou sei lá.
Será que ainda existem pessoas que analisam o quão sincero e
real é um sorriso ? Ou será que realmente acham que o fim de semana de algum
global em Las Vegas foi sensacional como parecem, pelas fotos, é claro.
Uma criança pode muito bem estar em frente a montanha russa
na Disney, com uma sacola enorme de moletons e tênis caros, comendo um sorvete
em formato de Mickey Mouse e estar infeliz. A infelicidade existe. A depressão
existe. A falta de amor, a TPM, o “saco-cheio”, o “ovo virado” e a insônia. Mas
as pessoas preferem fingir que não. E postam uma frase da Clarice Lispector com
uma foto do pôr do sol no RJ, com a paisagem mais linda que já pude ver. E mil
curtem, até aquele que pensa que a vida daquela pessoa é perfeita e até aquele
que é amigo da pessoa e sabe que ela não é tão otimista e feliz daquele jeito.
Aparências. Como sempre.
Comentários
Mas sério, o texto colocou tudo que eu penso.
Coisa linda de mainha s2